quarta-feira, 15 de junho de 2011

O milagre das provas

Ao longo da História, a humanidade demonstrou suas crenças nos símbolos, superstições e na simples demonstração de fé na espera por uma ligação com o divino. De tempos em tempos, uma ocasião especial faz com que essas crenças sejam explicitadas de todas as formas possíveis de uma só vez: a semana de provas de um colégio.
Sim, caro leitor, uma escola, em época de provas, se torna um dos maiores centros religiosos do mundo. É incrível o número de estudantes que, em questão de minutos, tornam-se crentes fanáticos em deuses dos mais variados para satisfazer seus desejos terrenos. Não estou falando apenas dos religiosos papadores de missa, mas dos ateus também. Preces são inventadas e demônios exorcizados, ou criados, em apenas algumas viradas das páginas de questões. É o milagre do meio ponto!
As tentativas de comunicação com o divino também são de se notar na semana de provas. Alunos de diversas salas afirmam que, antes de passar as respostas de uma avaliação, recebem mensagens estranhas e, muitas vezes, codificadas do Além com os possíveis resultados. Infelizmente para os estudantes, as entidades que fazem esse serviço de telecomunicação, que chega a ser melhor do que muita operadora de celular por aí, não são necessariamente amigáveis, levando muitos ao erro. As formas em que o sobrenatural tenta se comunicar com os alunos, nunca professores, apresentam uma variedade de dar inveja aos hipermercados, de sussurros a bilhetes, de rabiscos em línguas exóticas a Iphones.
Dizem que a fé no fantástico pode mover montanhas, mas não em um colégio. Por lá, ela só faz passar de ano. Aleluia, irmão!

domingo, 12 de junho de 2011

Minha primeira vez

Era manhã na cidade do Rio de Janeiro. Enquanto em pleno dia dos namorados as pessoas normais gastavam seu preciso tempo entrelaçados nos cobertores, eu já estava de alerta para a batalha que estava por vir.
Muitos já tinham me informado sobre a questão em si, desde a dicas de comportamento e relaxamento a até simulações e treinos práticos e didáticos, mas nada parecido como o que tive no domingo. Dessa vez não havia conselhos e livros. Era apenas eu sozinho na cruzada já a muito planejada e nunca posta à prova
Cheguei antes dos demais soldados no bairro do Méier, centro pulsante e ardente do fantástico caótico subúrbio carioca. Não conseguia pensar em nada, nada além de focar na minha missão, como um caçador atrás de seu premio. Nada, até ela aparecer. Se Tom Jobim e Vinícius de Moraes se encantaram com a garota de Ipanema e escreveram uma poesia, para essa musa do Méier eles fariam uma rapsódia inteira. A missão poderia estar comprometida.
Não tive chances de reagir aos encantos da formosa moça. Ela se aproveitou de toda a minha inexperiência no assunto e tomou a iniciativa, sem apresentar qualquer gentileza ou modos. Nada o que eu pudesse fazer poderia parar o ímpeto da mulher, que em movimentos friamente calculados deixavam-me sem qualquer resposta e confuso com o que estava acontecendo na minha frente. Porém, se no início achava que isso seria maléfico ao meu desempenho, não foi o que ocorreu no final. Passei a entrar no ritmo da donzela e aprendi com ela certos artifícios.
No soar das doze badaladas da igreja de Santo Antonio de Pádua, a musa do Méier largou-me e foi embora para nunca mais. Era o preço da guerra ao qual travamos nesse domingo e que, para minha felicidade, conseguimos vencer. Sentirei saudades da primeira vez em um vestibular.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um erro supremo

Hoje o Supremo Tribunal Federal negou o pedido do governo italiano de extradição de Cesare Battisti. Por mais que seja uma decisão soberana, foi um equívoco não mandar o acusado de volta para a Itália.
Juridicamente, não há motivos para a não extradição de Battisti. Condenado na Itália por quatro assassinatos na década de 1970, época em que participava de uma guerrilha de esquerda na península, o italiano deveria ser imediatamente extraditado para seu país de origem de acordo com um tratado assinado entre Brasil e Itália em 1993. De acordo com ele, os motivos que uma extradição não deve ser concedida são se o indivíduo for acusado de crime político, militar ou caso tenha sido julgado em um tribunal de exceção. Nenhum desses casos pode ser atribuído ao de Cesare.
Confirmada a manutenção do italiano em solo brasileiro, isso poderá, além de manchar a já vergonhosa fama do país de abrigo para fugitivos da Justiça, se tornar uma justificativa para um futuro ato recíproco da Itália ou de outra nação que tenha tratado com o Brasil.
O Brasil não ganhou em nada ao manter Battisti em território nacional. Ao desrespeitar um tratado ratificado e sujar internacionalmente sua reputação, o Brasil só perdeu com a decisão do STF.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Il Duce di Botas

Desde que foi criado pelos britânicos, o futebol movimenta a vida de milhões de pessoas através da emoção proporcionado por ele. Consequentemente, esse esporte tem o poder de gerar nas pessoas um sentimento nacionalista muito forte em certos países, como no Brasil. Por esse motivo, ao longo da História ditadores usaram o futebol como propaganda de seus regimes como um meio de enfatizar “a grandeza da nação”. Com Benito “Duce” Mussolini não poderia ser diferente.
Inaugurado em 1926, o regime fascista necessitava da propaganda para passar a imagem de uma grande potencia, e via no futebol um grande instrumento para tal. Em 1929, por ordens do Duce, o campeonato italiano foi totalmente reformulado para integrar os times do norte e do sul em uma única liga, já que a antiga fórmula de uma divisão do norte e uma do sul não seguia o ideal nacionalista do partido. Além disso, alguns clubes tiveram que ser reestruturados para atender aos desejos fascistas, como a Internazionale, que teve que mudar suas cores, escudo e até nome (passou a se chamar Ambrosiana na época). Mas isso não era suficiente para Mussolini.
Graças ao sucesso da I copa do mundo de futebol no Uruguai, a competição virou uma obsessão para o ditador. O regime totalitário não mediu esforços para realizar a próxima Copa em solo italiano, já que sabia do impacto da propaganda que geraria na Europa caso tudo desse certo. Estádios foram construídos e nomeados em louvor ao regime, como o Estádio Nazionale PNF (Roma) e o Benito Mussolini (Turim), atletas foram naturalizados e até árbitros foram “pré-selecionados”. Nada podia dar errado. No dia 10 de junho de 1934, a Itália fascista era campeã mundial aos olhares orgulhosos do Duce, que via sua Itália no mais alto degrau na Europa.
O episódio se repetiu na terceira edição em 1938, mas com uma diferença: a Copa seria realizada na rival França. Era um desejo de o Partido Fascista mostrar “a grandiosidade da nação italiana” em uma potencia estrangeira, o que gerou uma desconfortável pressão sobre os jogadores, que chegaram a receber até telegramas do próprio Mussolini avisando que na competição era ”vencer ou morrer”. Tal “incentivo” funcionou e a Itália sagrou-se bicampeã mundial, com direito a vitória em cima dos anfitriões vestido de um uniforme preto, símbolo do regime fascista.
Taças foram levantadas e jogadores consagrados, mas a maior vitória não foi no campo esportivo, mas no palanque político.A máquina de propaganda de Duce colocava assim a cereja do bolo do regime, que só apodreceu na II Guerra Mundial.