terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As Favoritas

Essa semana o governo britânico anunciou que mandará um príncipe e um de seus navios de guerra mais modernos para um território ultramarino. Essa seria uma notícia irrelevante se essa dependência não fosse o arquipélago das Malvinas/Falklands. Localizadas no Atlântico Sul, as ilhas são fonte de tensão entre Argentina e Reino Unido e estrelam a última disputa colonial no mundo.

É bastante curiosa essa richa entre os dois países pelas ilhas. Geralmente, dois os mais Estados brigam entre si por algum território se esse tem alguma localização estratégica ou algum recurso que possa alavancar suas respectivas economias. Entretanto, as Malvinas não são nenhuma Alsácia-Lorena, região disputada entre França e Alemanha nos séculos XIX e XX pelas minas de ferro e carvão. É verdade que, com a recente descoberta de petróleo nos arredores do arquipélago, essa região passa ganhar certa relevância econômica, ao contrário do que se via na pesca. A questão é que a quebra de braço entre argentinos e britânicos pela posse das ilhas tem quase 180 anos, muito anterior à descoberta do óleo. Para eles, muito mais está em jogo.

É uma questão de orgulho nacional para o Reino Unido a soberania de Falklands. Dona da marca de maior império em extensão já registrado na História, a Coroa Britânica, assim como a população, enxerga no remoto conjunto de ilhas uma vaga lembrança dos tempos de glória, e sua perda seria vergonhosa e uma demonstração de fraqueza maior que a perda do posto de sexta economia do mundo para o Brasil. Desse modo, a defesa do status do arquipélago é prioridade para Londres, custe o que custar, como uma demonstração de força e prestígio na comunidade internacional, mesmo de certo modo artificial dado os novos protagonistas do jogo político. Isso é o que comprova a reeleição de Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, após a vitória na Guerra das Malvinas contra a Argentina, mesmo com o Estado quebrado após a Crise do Petróleo.

O patriotismo exagerado também é usado pela Argentina para atiçar o conflito. Desde 1833, ano em que o então Império Britânico tomou o controle definitivo das remotas Malvinas, o governo sul-americano reivindica a posse do arquipélago alegando que este foi repassado pela ex-metrópole espanhola, e em muitas vezes usa o ufanismo argentino como arma para combater “o invasor estrangeiro”, ou para unir a população em torno de um governante para dá-lhe força. Foi assim em 1982, período em que o regime militar argentino invadiu os tais ilhéus para acender o nacionalismo no povo e gerar uma base de sustentação para o governo. Após a derrota a guerra, a ditadura caiu, mas revelou que qualquer desistência de um governante cedente sobre a questão não é perdoada.

Enquanto ambos trocam farpas e uma solução pacífica sempre fica mais longe, quem sofre é a população local. Cerca de três mil de habitantes de Falklands se vêem em eterna tensão sobre um conflito político ou militar pela região, ou melhor, pelo título de as pacatas ilhas oferecem ao seu dono.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Santos Pecados

Ao longo dos séculos, a postura da Igreja Católica mostrou-se uma barreira para o progresso da humanidade. Após as brutais condenações do papa Bento XVI à união homossexual, a pergunta que fica é: até quando?

Primeiramente, o texto é sobre a instituição Igreja Católica Apostólica Romana e seu comportamento, e não sobre a religião católica. Não é de interesse de esse blog discutir parâmetros sobre as crenças e atiçar o confronto entre os mais diferentes credos e ateus, pois esse tipo de discussão não passa de uma grande idiotice.

Muitos de seus pecados (talvez a palavra favorita do clero) vêm de suas origens. Após tornar-se a única organização funcional com a queda do Império Romano no Ocidente e já deter um grande número de seguidores em amplos territórios, a Igreja ganhou um status destacado e seu poder temporal multiplicou-se em meio do caos da Idade Média. Ao adquirir tanta influência, a postura da entidade passou a ser de mantê-la a qualquer custo, mesmo que isso tenha significado a perseguição de todos que pudessem colocar em xeque sua reputação de portadora da verdade, torturas e guerras. A Igreja, que deveria passar a mensagem de amor e confraternização, passou a mostrar arrogância e segregação.

Atualmente, tal prepotência é visível em seu conservadorismo. A defesa de tantos ideais retrógrados demonstram que o papado ainda não aceita os novos tempos da modernidade, quando seu poder foi drasticamente reduzido, ao utilizar de sua ainda grande influência para barrar conquistas da sociedade contrárias à sua posição. Ao invés de aproveitar as oportunidades e encarar uma reforma condizente com o mundo que vive, a Igreja Católica prefere fechar as portas e condenar o fim do celibato, direitos dos homossexuais, o uso de camisinhas, a ordenação de mulheres, etc.

Eu, como católico, tenho vergonha de ver sacerdotes como Bento XVI continuarem essa linha de pensamento na Igreja. Talvez a última esperança tenha ido junto com a morte de João Paulo II que, mesmo com a manutenção de certas medidas medievais, mostrou-se apto a dialogar e construir um mundo melhor. Dependendo de Ratzinger, a Igreja continuará com seus santos pecados.