Essa semana o governo britânico anunciou que mandará um príncipe e um de seus navios de guerra mais modernos para um território ultramarino. Essa seria uma notícia irrelevante se essa dependência não fosse o arquipélago das Malvinas/Falklands. Localizadas no Atlântico Sul, as ilhas são fonte de tensão entre Argentina e Reino Unido e estrelam a última disputa colonial no mundo.
É bastante curiosa essa richa entre os dois países pelas ilhas. Geralmente, dois os mais Estados brigam entre si por algum território se esse tem alguma localização estratégica ou algum recurso que possa alavancar suas respectivas economias. Entretanto, as Malvinas não são nenhuma Alsácia-Lorena, região disputada entre França e Alemanha nos séculos XIX e XX pelas minas de ferro e carvão. É verdade que, com a recente descoberta de petróleo nos arredores do arquipélago, essa região passa ganhar certa relevância econômica, ao contrário do que se via na pesca. A questão é que a quebra de braço entre argentinos e britânicos pela posse das ilhas tem quase 180 anos, muito anterior à descoberta do óleo. Para eles, muito mais está em jogo.
É uma questão de orgulho nacional para o Reino Unido a soberania de Falklands. Dona da marca de maior império em extensão já registrado na História, a Coroa Britânica, assim como a população, enxerga no remoto conjunto de ilhas uma vaga lembrança dos tempos de glória, e sua perda seria vergonhosa e uma demonstração de fraqueza maior que a perda do posto de sexta economia do mundo para o Brasil. Desse modo, a defesa do status do arquipélago é prioridade para Londres, custe o que custar, como uma demonstração de força e prestígio na comunidade internacional, mesmo de certo modo artificial dado os novos protagonistas do jogo político. Isso é o que comprova a reeleição de Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, após a vitória na Guerra das Malvinas contra a Argentina, mesmo com o Estado quebrado após a Crise do Petróleo.
O patriotismo exagerado também é usado pela Argentina para atiçar o conflito. Desde 1833, ano em que o então Império Britânico tomou o controle definitivo das remotas Malvinas, o governo sul-americano reivindica a posse do arquipélago alegando que este foi repassado pela ex-metrópole espanhola, e em muitas vezes usa o ufanismo argentino como arma para combater “o invasor estrangeiro”, ou para unir a população em torno de um governante para dá-lhe força. Foi assim em 1982, período em que o regime militar argentino invadiu os tais ilhéus para acender o nacionalismo no povo e gerar uma base de sustentação para o governo. Após a derrota a guerra, a ditadura caiu, mas revelou que qualquer desistência de um governante cedente sobre a questão não é perdoada.
Enquanto ambos trocam farpas e uma solução pacífica sempre fica mais longe, quem sofre é a população local. Cerca de três mil de habitantes de Falklands se vêem em eterna tensão sobre um conflito político ou militar pela região, ou melhor, pelo título de as pacatas ilhas oferecem ao seu dono.
Esprit du Temps
Um blog sempre atrasado no relógio,mas à frente de seu tempo
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Santos Pecados
Ao longo dos séculos, a postura da Igreja Católica mostrou-se uma barreira para o progresso da humanidade. Após as brutais condenações do papa Bento XVI à união homossexual, a pergunta que fica é: até quando?
Primeiramente, o texto é sobre a instituição Igreja Católica Apostólica Romana e seu comportamento, e não sobre a religião católica. Não é de interesse de esse blog discutir parâmetros sobre as crenças e atiçar o confronto entre os mais diferentes credos e ateus, pois esse tipo de discussão não passa de uma grande idiotice.
Muitos de seus pecados (talvez a palavra favorita do clero) vêm de suas origens. Após tornar-se a única organização funcional com a queda do Império Romano no Ocidente e já deter um grande número de seguidores em amplos territórios, a Igreja ganhou um status destacado e seu poder temporal multiplicou-se em meio do caos da Idade Média. Ao adquirir tanta influência, a postura da entidade passou a ser de mantê-la a qualquer custo, mesmo que isso tenha significado a perseguição de todos que pudessem colocar em xeque sua reputação de portadora da verdade, torturas e guerras. A Igreja, que deveria passar a mensagem de amor e confraternização, passou a mostrar arrogância e segregação.
Atualmente, tal prepotência é visível em seu conservadorismo. A defesa de tantos ideais retrógrados demonstram que o papado ainda não aceita os novos tempos da modernidade, quando seu poder foi drasticamente reduzido, ao utilizar de sua ainda grande influência para barrar conquistas da sociedade contrárias à sua posição. Ao invés de aproveitar as oportunidades e encarar uma reforma condizente com o mundo que vive, a Igreja Católica prefere fechar as portas e condenar o fim do celibato, direitos dos homossexuais, o uso de camisinhas, a ordenação de mulheres, etc.
Eu, como católico, tenho vergonha de ver sacerdotes como Bento XVI continuarem essa linha de pensamento na Igreja. Talvez a última esperança tenha ido junto com a morte de João Paulo II que, mesmo com a manutenção de certas medidas medievais, mostrou-se apto a dialogar e construir um mundo melhor. Dependendo de Ratzinger, a Igreja continuará com seus santos pecados.
Primeiramente, o texto é sobre a instituição Igreja Católica Apostólica Romana e seu comportamento, e não sobre a religião católica. Não é de interesse de esse blog discutir parâmetros sobre as crenças e atiçar o confronto entre os mais diferentes credos e ateus, pois esse tipo de discussão não passa de uma grande idiotice.
Muitos de seus pecados (talvez a palavra favorita do clero) vêm de suas origens. Após tornar-se a única organização funcional com a queda do Império Romano no Ocidente e já deter um grande número de seguidores em amplos territórios, a Igreja ganhou um status destacado e seu poder temporal multiplicou-se em meio do caos da Idade Média. Ao adquirir tanta influência, a postura da entidade passou a ser de mantê-la a qualquer custo, mesmo que isso tenha significado a perseguição de todos que pudessem colocar em xeque sua reputação de portadora da verdade, torturas e guerras. A Igreja, que deveria passar a mensagem de amor e confraternização, passou a mostrar arrogância e segregação.
Atualmente, tal prepotência é visível em seu conservadorismo. A defesa de tantos ideais retrógrados demonstram que o papado ainda não aceita os novos tempos da modernidade, quando seu poder foi drasticamente reduzido, ao utilizar de sua ainda grande influência para barrar conquistas da sociedade contrárias à sua posição. Ao invés de aproveitar as oportunidades e encarar uma reforma condizente com o mundo que vive, a Igreja Católica prefere fechar as portas e condenar o fim do celibato, direitos dos homossexuais, o uso de camisinhas, a ordenação de mulheres, etc.
Eu, como católico, tenho vergonha de ver sacerdotes como Bento XVI continuarem essa linha de pensamento na Igreja. Talvez a última esperança tenha ido junto com a morte de João Paulo II que, mesmo com a manutenção de certas medidas medievais, mostrou-se apto a dialogar e construir um mundo melhor. Dependendo de Ratzinger, a Igreja continuará com seus santos pecados.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
O Levantar do Gigante Adormecido
Mais um ano vai chegando ao seu fim, apenas contando seus últimos dias até os festejos de Réveillon para se afogar nas areias do tempo. Repleto de acontecimentos históricos, 2011 ganhou papel importante no século XXI e, principalmente, ressuscitou a figura do povo.
Dos Estados Unidos ao Oriente Médio, pessoas comuns, antes acostumadas com o status quo, rebelaram-se contra a opressão e passaram a exigir seus direitos e liberdades até então negados.
O caos financeiro foi uma das maiores motivações para as rebeliões. Com novas incoerências aparecendo, antigas se maximizando e nenhuma perspectiva de melhora por parte dos políticos, o povo passou a ir às ruas para exigir um sistema mais justo e menos ganancioso. Protestos pelo Ocidente, principalmente no Reino Unido e EUA, que ofuscaram, respectivamente, as propagandas com o pomposo casamento Real e a morte (leia-se assassinato) de Osama Bin Laden, colocaram o capitalismo como o conhecemos à beira de uma reforma mais rigorosa para atender aos apelos dos indignados. As “ocupações”, termo que os próprios protestantes intitularam seus movimentos, mostraram que povo não irá mais passivamente atender aos desejos das poderosas multinacionais, ao menos em tempos de crise.
Acorrentado a essas manifestações também estão as contrárias às políticas de governos e corrupção. A ingenuidade que as pessoas enxergavam a rede de tramas já não existe com o mesmo grau e apelo, e a consciência política parece cada vez ganhar os corações e punhos dos cidadãos. O povo lotou as ruas construídas pelo seu suor e realçaram sua voz unida por mudanças e melhorias, a exemplo dos chilenos e sua demanda por educação gratuita, e dos italianos, russos e brasileiros e suas pressões por governos mais transparentes e limpos. Como resultado, um primeiro-ministro caiu (Silvio Berlusconi-Itália) e outros tantos ministros, senadores e deputados nesses e outros países,
Entretanto, o maior destaque de 2011 veio do Oriente Médio. Até então submissos à histórica repressão e falta de autonomia, árabes e palestinos mandaram uma mensagem de basta ao mundo e partiram para a luta pelos seus direitos. Os palestinos, descrentes de qualquer negociação direta com Israel, clamaram por um Estado próprio na ONU, como aconteceu com o povo do novo Sudão do Sul, e tiveram resultados impressionantes, como a entrada do território na UNESCO e o desafio da comunidade internacional perante os americanos e israelenses. Já os árabes, cansados das estruturas arcaicas que os cercavam, manifestaram sua crença na liberdade aprisionada por gerações e varreram ditadores que há tempos gozavam de poder ilimitado, e que agora estão mortos, caso de Kadafi após a sangrenta guerra civil na Líbia, presos, como Mubarak (Egito), ou fugitivos, como Bem Ali (Tunísia).
O povo, aquele deveria ser o grande protagonista nos rumos da sociedade na Idade Contemporânea, parecia que estava hibernando em alguma caverna escura desde 1968 ou, sendo pessimista, desde a “Primavera dos Povos” de 1848. Porém, 2011 fez com que esse gigante acordasse e visse o mundo como ele realmente é. Agora é esperar 2012 para saber se esse levantar será apenas um surto ou um retorno definitivo.
Queridos leitores, muito obrigado pelas visitas, comentários e críticas. Parte desse blog pertence a vocês. Aquele abraço e que venha 2012!
Breno Botelho Vieira da Silva
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Política de Matar
O tenente-coronel Modesto Madia foi nomeado comandante da tropa de elite da polícia militar paulista nesses últimos dias. Essa notícia, caracterizada como desimportante por muitos, passaria despercebida por esse blogueiro se não fosse um único detalhe: O PM é réu no caso do Massacre do Carandiru e evidencia a política repressora que a polícia passou a exercer.
A polícia nada mais é do que o próprio instrumento do Estado. É nela que os governantes confiam para que a vontade instituída por ela seja cumprida através da coerção, ou imobilidade, com finalidade de não abalar o poder central e manter o status quo da sociedade. Os policiais são nada mais que agentes do desejo do Estado e dos políticos que o governam. Um grande exemplo é o caso Castor de Andrade, falecido contraventor carioca e considerado o primeiro mafioso brasileiro, que prosperava graças às vistas grossas das autoridades, pois o Estado não tinha interesse em acabar com seus lucrativos negócios e, consequentemente, apoio. Isso era tão explícito que o ex-presidente general João Figueiredo abraçou o bicheiro em uma cerimônia.
Logo, é cabível concluir qual a mensagem explícita que a nomeação de Modesto Madia passa para a população. Na cabeça dos políticos, a truculência da corporação policial, a selvageria e o medo que a farda possa propiciar são a chave para controlar a sociedade, o grande desejo do governo. Chega até a ser parecido com as temíveis SAs dos tempos de trevas e suásticas na Alemanha, onde as milícias usavam o terror e a como forma de manter o controle da população. Muitos estados no Brasil se encaixam com essa política quase totalitária de uso da polícia, como é o caso de Alagoas, região em que o coronelismo consegue vencer as barreiras do tempo, mas em especial São Paulo, vangloriado como o estado mais rico da União e, em tese, um exemplo a ser seguido, que segue sempre que pode com sua política de repressão.
Uma verdadeira polícia deveria ser aquela faz a segurança pública em parceria com a população. Um novo pacto social deveria ser feito entre Estado e povo para que um possa enfim coexistir no outro, usando políticas de inclusão, como escolas e hospitais, para construir uma base sólida na sociedade. Entretanto, isso se torna impossível quando uma das pontas do acordo tem como favorito um carrasco com sangue de 111 pessoas nas mãos.
sábado, 15 de outubro de 2011
O Terceiro Reinado
O século XXI tem se mostrado bastante diferente para o Brasil. Acostumado à periferia do sistema capitalista, o país finalmente conseguiu uma posição de destaque dentro do sistema internacional, chegando ao patamar de futura grande potência, conquentemente, imperialista.
O que é imperialismo?
Imperialismo é o nome dado para uma política de domínio de um Estado frente aos demais. Para tal, é necessário um Estado englobar minimamente as quatro frentes do poder (econômica, política, cultural e militar) e usá-las, não necessariamente ao mesmo tempo, para criar uma esfera de influência e interferência, ou seja, um império. Isso é o que configura uma potência, seja ela regional, como a Turquia no Oriente Médio, ou uma superpotência, como os Estados Unidos. Se isso parece um tanto que óbvio para muitos, poucos conseguem enxergar o Brasil como um Estado imperialista, o que ele de fato é.
Atualmente, o Brasil vem desempenhado grande influência em um patamar nunca antes visto. Antes com um predomínio bastante difuso na América do Sul, o país começa a projetar sua sombra em escala mundial. Empresas, como o conglomerado Odebrecht, a Petrobras, o Banco Bradesco e a Vale S.A estão ganhando cada vez mais espaço no cenário internacional favorecidas pela imagem de segurança e solidez gerada pelo país após 2008. Com elas, o governo e a iniciativa privada garantem uma maior participação direta nos assuntos econômicos de cada vez mais Estados, o que gera consequetemente gera interferência e dependência. Como é o caso da Odebrecht, que está ganhado espaço em países desenvolvidos, como os EUA, e faz países como Equador e Angola dependentes na área de infra-estrutura e geração de empregos.
Consequentemente, a política brasileira está ganhando feições imperialistas. Antes acostumado ao marasmo, o Estado está executando ações mais duras e ousadas no plano das relações internacionais. Um grande exemplo é a intervenção direta em Honduras, em 2009, ao refugiar o presidente deposto Manuel Zelaya em sua embaixada no país e usar sua maior cartada na diplomacia ao virar árbitro da conturbada situação. De lá pra cá, o Itamaraty, o Ministério de Relações Exteriores do Brasil, ganhou espaço como uma peça influente no xadrez político ao mediar disputas, como a questão nuclear iraniana e o conflito entre Israel e Palestina, e liderar movimentos para a reestruturação do poder mundial, como as reformas no Conselho de Segurança da ONU. A influência é tamanha que a cultura nacional está passando a ser amplamente difundida pela diplomacia, tendo como marco a fama internacional do escritor Paulo Coelho.
Até na frente militar o país está ensaiando certo imperialismo. Atualmente sucateada, as Forças Armadas estão prestes a fechar um negócio milionário com a França, se o impasse acabar, para a compra de jatos militares para modernizar sua esquadra e transferir tecnologia, além de ter um projeto de construção de submarinos nucleares em pleno vapor. Além disso, o exército brasileiro participa de missões pacificadoras da ONU pelo mundo, como Haiti e Líbano, como força de ocupação.
Com a grandiosa ascensão da China, o Brasil não deve ter um papel parecido como o atual, e retalhado, império americano. Entretanto, ao longo dos anos a esfera de influência brasileira crescerá nos quatro ramos e, certamente, nascerá um novo império na América.
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